domingo, 3 de maio de 2020

Do estado de Emergência ao Estado de Calamidade...Ou as mudanças a que o "bicho" obrigou!!!

"Um dia tudo será excelente, eis a nossa esperança; hoje tudo corre pelo melhor, eis a nossa ilusão."
           Voltaire

Quando no dia 13 de Março (por coincidência ou não, era sexta-feira) tomei a decisão de não deixar a B. ir às aulas fazendo-a permanecer em casa, estava consciente de que se aproximavam dias negros e difíceis! Porém, longe de imaginar que essa seria a nossa realidade a qual se iria prolongar por 45 dias!!!
Em meados de Março a Organização Mundial de Saúde (OMS) havia qualificado a situação atual no mundo de emergência de saúde pública ocasionada pela epidemia da doença COVID-19, tornando-se imperiosa a previsão de medidas para assegurar o tratamento da mesma, através de um regime adequado a esta realidade. 
Mas afinal o que causou todas estas mudanças???
Um Virús!!! Um minúsculo, microscópico e mortal virús...
COVID-19 é o nome, atribuído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) à doença provocada pelo novo coronavírus SARS-COV-2, que pode causar infeção respiratória grave como a pneumonia. Este vírus foi identificado pela primeira vez em humanos, no final de 2019 na China.
A OMS atribuiu o nome, COVID-19, é o nome da doença que resulta das palavras “Corona”, “rus” e “Doença” com indicação do ano em que surgiu (2019).

Desde que soubemos que havia um caso em Portugal e devido às informações que tínhamos obtido através de amigos sobre a situação em Macau e da necessidade de ficarmos em casa em isolamento, começamos a preparar-nos de um modo progressivo e sem alarido. 
Na semana de 9 de Março a B. deixou de utilizar os transportes públicos passando a ser eu e o pai a assegurarmos as suas idas e vindas do Colégio. Durante essa semana comecei a fazer compras para a eventualidade de termos de ficar uma quinzena sem sair de casa.  Na quinta-feira comecei a receber sms de amigos a informar que já havia colégios fechados no Porto, que haviam muitos mais casos e miúdos infetados em várias Escolas e à noite decidimos que a B. já não iria ao Colégio no dia seguinte.
Durante esse fds passei várias horas a seguir as notícias e já se previa oficialmente o encerramento das Escolas, situação que viria a acontecer no dia 16 de Março.

Foi o primeiro fim-de-semana de isolamento voluntário. Um fim-de-semana cheio de simbolismo, com a 1ª homenagem aos técnicos de saúde sob a forma de aplausos, pinturas de arco-íris e mensagens de esperança... E em poucos dias a nossa realidade mudou!!!

 No dia 18 de Março após várias reuniões o Primeiro-Ministro, António Costa deu uma conferência de imprensa onde afirmou que a reunião do Conselho de Ministros «concentrou-se exclusivamente na elaboração de um decreto de regulamentação das limitações dos direitos de deslocação e da liberdade de iniciativa económica», na sequência da entrada em vigor do estado de emergência. 

No dia 18 de março de 2020 foi decretado o estado de emergência em Portugal, através do Decreto do Presidente da República n.º 14-A/2020, de 18 de março. Foi um dia histórico. Pela primeira vez após o 25 de Abril de 1974 foi tomada esta medida excecional. E seguiram-se ainda mais duas renovações desse estado. No total o nosso País esteve durante 45 dias em Estado de emergência (até ao dia de hoje!).

Como ficava patente no Decreto Presidencial "A situação excecional que se vive e a proliferação de casos registados de contágio de COVID-19 exige a aplicação de medidas extraordinárias e de caráter urgente de restrição de direitos e liberdades, em especial no que respeita aos direitos de circulação e às liberdades económicas, em articulação com as autoridades europeias, com vista a prevenir a transmissão do vírus." 
E dessa forma as cidades e o país fecharam-se, as pessoas recolheram-se, as fronteiras foram encerradas, os voos cancelados...a maioria das empresas entrou em lay-of, só o comércio ligado à alimentação se manteve a funcionar. O ensino passou a ser a distância, os serviços públicos também só faziam atendimento via internet, e nós cidadãos ficámos obrigados ao dever geral de recolhimento domiciliário, devendo a todo o custo evitar deslocações para fora do domicílio para além das necessárias. 
Mas mesmo assim o vírus continua imparável. É o tempo de Pandemia. Os dados de hoje atestam que no mundo já há mais de 3,3 milhões de pessoas infetadas e que o número de mortos já ultrapassa os 235 mil.
Na Europa durante semanas sofremos com os Italianos, os Espanhóis, os Franceses e os Ingleses. Mas, confesso, as minhas lágrimas correram pelos italianos. Um povo que admiro, um país que amo e do qual tenho as melhores recordações...Itália foi o primeiro país europeu a decretar que todos ficassem em casa, durante várias semanas os números de infetados e de mortos não parou de aumentar. Tiveram ajuda da china, de Cuba, por fim da Alemanha. Os italianos deram uma vez mais o exemplo e puseram-se à varanda a cantar, ora "andrá tutto benne" ora nos brindavam com belíssimas àreas de ópera, ora com espontâneos atos de solidariedade. O Papa Francisco protagonizou  vários momentos emotivos orando pela humanidade e concedeu mesmo uma benção extraordinária Urbi et Orbi numa Praça de S. Pedro deserta e chuvosa...

Em Portugal felizmente os números não chegaram às piores expetativas. Há mais de 25 mil infetados e cerca de mil mortes a registar.

Esta noite termina o Estado de emergência e passamos para o Estado de Calamidade. Amanhã abrirá o comércio de rua...Tentamos salvar a economia, espero que consigamos retomar alguma normalidade...Daqui em diante será a responsabilidade cívica a ser avaliada...Espero que continuemos cientes do perigo que continuamos a correr e que saibamos agir em conformidade...só assim, venceremos este maldito bicho e poderemos voltar a celebrar juntos!
 

sexta-feira, 1 de maio de 2020

As Maias em tempo de Pandemia

Mês de Maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores.
Provérbio Popular

Ora, vamos lá falar das Maias e desta tradição também portuguesa. Contrariamente a muitas das pessoas do Norte que conheço, não cresci com esta tradição e só a conheci quando estudava na faculdade em Lisboa!!! Imagine-se uma tradição na Capital sem ser a festa do Stº. António...De facto, lembro-me perfeitamente de ver as senhoras com cestos cheios de raminhos de giestas para venderem nas saídas do Metro. E talvez faça sentido que em Lisboa esta tradição estivesse bem viva na minha juventude, pois, segundo um dos nossos historiadores esta celebração pagã aparece registada em Portugal na Lisboa Medieval:
Leite de Vasconcelos [3] refere o costume português das Maias como a mais antiga menção desta festa popular, festa evidentemente naturalística, posto mais ou menos desviada da sua significação primitiva, já pelo próprio Paganismo, já pelo Cristianismo, creio que se acha nestas linhas da Postura da câmara de Lisboa de 1385: «Outro sim estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do ano». (Vasconcelos, José Leite de, 1938. OPÚSCULOS)
Esta festa, de reminiscências pagãs, foi proibida várias vezes em Lisboa , voltou a acontecer no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...". 
Mas Afinal o que significavam as Maias??? Há muitas explicações...
Segundo alguns, a Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno do qual havia danças toda a noite do primeiro dia de Maio. Por vezes, podia ser também uma menina de vestido branco coroada com flores, sentada num trono florido e venerada, todo o dia, com danças e cantares. 

 Segundo outros autores, Maio recebeu o nome do deus Maius que era o deus da Primavera e do crescimento. Para outros o nome do mês de Maio terá tido origem em Maia, mãe de Mercúrio, e a ele está ligado o costume de enfeitar as janelas com flores amarelas. As celebrações em honra de Flora, a deusa das flores e da juventude (mãe da Primavera), iniciavam o novo ano agrícola e atingiam, na Roma antiga, o seu clímax nos três primeiros dias de Maio.


Seja como for, todos estes rituais pagãos estavam ligados ao rito da fertilidade para com o novo ciclo da natureza, à celebração da Primavera ou ao início de um novo ano agrícola. 
Mais tarde, houve necessidade de lhe incutir algum sentido religioso, promovendo a sua ligação à Festa da Santa Cruz ou ao Corpo de Deus. Esse facto pode justificar a lenda do Alto Minho, segundo a qual Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino Jesus, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime... 
A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de giesta florida à porta, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus, ser morto.

Talvez resultado desta lenda, hoje em dia ainda é possível observar em algumas zonas do nosso país, a colocação de ramos de giestas em flor, ou até mesmo coroas feitas de ramos de giestas, conjuntamente com outras flores e enfeites coloridos, nas portas e janelas das casas ou nos automóveis, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio.
Todas estas celebrações do 1º de Maio, estão relacionadas com um certo um sincretismo de práticas e crenças, talvez de origens diferentes mas todas convergentes, recobrindo a obscura ideia, que subsiste no espírito do Homem, da necessidade de desencadear formas efetivas de proteção e de esconjuro a opor à insegurança da vida e à omnipresente ameaça do mal.
E assim, um pouco por todo o Norte do País no dia 30 de Abril vão-se colher as giestas e nessa noite, antes da meia-noite é tradição que se coloquem à porta de casa as giestas floridas, a que também se dá o nome de maias por florirem em Maio. 
Por crendice ou simplesmente por tradição um pouco por todo o Porto é possível ver as portas e janelas enfeitadas com os ramalhetes de maias. Desde que vim para cá morar que também me habituei a ter as Maias à porta durante a noite de 30 de Abril para 1 de Maio. Mas o mais engraçado é que ao longo de todos estes anos nunca apanhei as Maias nem as coloquei. Tive sempre uma vizinha que se ocupava dessa tarefa e sempre me disse que era importante manter o ramos durante a noite em todas as portas de casa para afastar o "carrapato"... ou seja o Diabo, mas há, também, quem diga que afasta o mau-olhado, as bruxas de casa, os maus espíritos, as doenças e as trevas... 
Mas há variante regionais no nosso País. No Minho, Douro Litoral e Beira Litoral o ritual passa pela colocação de maias nas janelas, portas e varandas e até nos automóveis e tratores. 
Todavia, nas restantes regiões do país este dia é, ou era, celebrado de uma forma algo diferente. Em Trás-os-Montes, além de se enfeitarem as portas das casas com flores de giestas, as raparigas adornam um menino que dizem repre­sentar o “Maio-moço” e passeiam-no pelas ruas com grande ruído alegre, cantando e bailando em volta dele. 
Na Beira-Alta e na Beira-Baixa (embora nesta apareça excecionalmente um boneco de palha) são também rapazes ataviados de giestas quem personificam o “Maio”, centralizando o peditório cerimonial em dinheiro ou castanhas.
Na Estremadura, a “Maia” é uma rapariguinha adornada com flores que percorre as ruas da povoação acompanhada pelas companheiras.
No Alentejo as “Maias” são meninas que se vestem de branco e se enfeitam com flores, pondo na cabeça uma coroa de mais flores, e sentam-se em cadeiras, o seu trono, à esquina de alguma rua, nalgum largo ou junto à porta de sua casa, enquanto companheiras mais crescidas, com pequenas bandejas na mão, pedem a quem passa: “Meu senhor, um tostãozinho para a maia”.

No Algarve, em quase todas as casas é costume arranjar-se um grande boneco de palha de centeio, farelos e trapos que depois vestem de branco e cercam de flores. É a “Maia” colocada à vista de quem passa.
Este hábito de se colocarem giestas amarelas às portas, nas janelas e nas varandas não se perdeu, e por isso, este ano, já que estamos em Pandemia e descobri numa das minhas caminhadas um caminho cheio de giestas, decidi manter a tradição e fazê-la a preceito.
Ontem à tarde fui colher as Maias e fiz os raminhos...
E à noite depois do jantar fui colocar à Porta, na minha e nas das minhas vizinhas que me querem bem...Não sei se chegará para afastar o "bicho mau" (Covid-19) mas pelo sim pelo não lá coloquei os ramos na Esperança que as giestas tragam a luz...


quinta-feira, 26 de março de 2020

Covid-19: No dia em que constatei ser a mais nova no supermercado!!!!

"Torne o resto da sua vida tão significativo quanto possível. Consiste apenas em agir levando os outros em consideração. Assim, encontrará paz e felicidade para si mesmo." Dalai Lama


Ao fim de 9 dias em casa em isolamento voluntário como nos compete, atendendo ao contexto da pandemia provocada pelo novo coronavirus - o covid-19, hoje precisei de sair à rua para fazer compras na frutaria e no supermercado.Sair de casa numa altura destas só mesmo para comprar bens de primeira necessidade e requer muitos cuidados e preparativos. Como só temos em casa uma máscara cirúrgica para cada um, guardamos para a eventualidade de termos de nos deslocar a algum hospital. Assim, usei uma máscara de pano! Não protege tanto é certo, mas é preferível a nada usar, e como é só para ir às compras e voltar é mesmo a que vou usar! Luvas descartáveis e roupa que pode ser lavada a 60º!

Já tinha previamente falado com os vizinhos mais próximos que vivem sozinhos! Idosas! Ver se precisavam que lhes comprasse alguma coisa!Depois entrei no carro a comecei a verificar a mudança no mundo que me era familiar....ruas desertas!!! Contam-se pelos dedos de uma única mão as pessoas com quem me cruzei até chegar ao supermercado! Felizmente, por um lado, pois, quer dizer que está tudo em casa e que estão a cumprir as orientações, que é o mesmo que dizer que cada um está a fazer a sua parte e a proteger-se e proteger os outros...Por outro lado, parece que vivo um filme de terror e sinto-me uma das personagens do filme "Contágio" de Soderbergh ou do livro "A Peste" de Camus!!! Por momentos sinto-me a sufocar pela ansiedade que esta vivência me provoca...toda esta calma e silêncio das ruas se torna ensurdecedora, perturbadora!!! Evidencia a nossa vulnerabilidade...É difícil este confronto com a nova realidade. É preciso ter auto-controlo emocional...os prédios estão cheios de pessoas, crianças...e nada se ouve!!!


Estacionei o carro fora do parque do supermercado, mesmo em frente! Fui primeiro à frutaria...vazia!! Pude fazer as compras com calma...legumes e fruta! Entretanto entrou uma senhora já na casa dos 60!!! E quando estava a pagar...mais um senhor com bastante idade!!!
Fui colocar o saco das compras no carro! Segui para o supermercado...ninguém na fila! Subi as escadas e entrei, o agente da polícia deixou-me entrar afirmando que não havia quase ninguém lá dentro!!! Pois não, não havia...só meia dúzia de idosos!!!
E comecei a ficar mais preocupada quando constatei que tirando os funcionários, eu era a mais NOVA dentro do supermercado!!! Mas que raio!!! São os idosos que representam o maior grupo de risco! São eles os mais frágeis, os mais vulneráveis, mas também aqueles que se estão a expor mais...são eles que sozinhos andam a comprar aquilo que precisam quando deveriam estar em casa! Mas que sociedade é esta que não os protege?!
Reconheço que é muito difícil para os mais idosos ficar em casa. Os dias para a maioria são muito longos,  sem grandes perspetivas e ocupações. Reconheço que a maioria sai incautamente, desvalorizando a gravidade da situação e deste vírus. Alguns saem por necessidade é certo! Mas compete-nos a nós, os mais novos, os que não somos de risco, sermos solidários e cuidadores também daqueles que nos são mais próximos. Não só dos que coabitam connosco, mas daqueles vizinhos idosos que sabemos perto e a quem podemos ajudar para evitar que eles saiam.
No livro de Camus sobressai para lá do horror a afirmação da solidariedade!
A grandeza da humanidade que sabe unir-se e lutar em conjunto contra o vírus silencioso!!!
Todos nós temos medo, estamos assustados e preocupados! Cada vez que saio também tenho medo e tomo todas as precauções para evitar o contacto e o contágio! Espero conseguir! Tenho medo cada vez que o meu marido sai para trabalhar, porque ele continua a ir trabalhar diariamente...e tenho medo acrescido, porque também faz parte do grupo de risco. E desdobro-me em limpezas e desinfecções durante o dia...tenho medo pela minha filha, pela família...penso diariamente na minha mãe que está longe e que também tem dificuldade em ocupar os dias! Mas continua firme e sem sair de casa! Desdobro-me em telefonemas, sempre com recomendações...
E agora, no meio do supermercado, no meio da minha lista, não consigo abstrair-me destas pessoas idosas...não consigo ficar indiferente...e o silêncio no interior da loja é interrompido apenas pela voz da funcionária que do altifalante emite as instruções, apela ao distanciamento, ao não açambarcamento...Parecemos autómatos a retirar das prateleiras o que queremos, mudos, rápidos...
Regresso a casa! Tenho ainda mais uma hora pela frente...desinfetar as mãos, deixar toda a roupa no hall de entrada (para em seguida meter num saco e colocar na máquina de lavar), os sapatos na zona "suja, contaminada"...deixo também as compras e vou rapidamente tomar banho e vestir roupa lavada.
Agora tenho de levar todos os sacos para a cozinha e descontaminar tudo...isto é, deito fora todos os sacos, lavo os legumes e a fruta antes de os arrumar. Passo um pano com
 mistura água/lixívia por cada um dos produtos...depois lavo também a ilha...lavo as mãos novamente e só então arrumo tudo!
Desde que saí de casa até agora passaram 3H!
É praticamente a tarde toda para uma saída ao supermercado!
Porque é preciso fazer tudo isto com segurança, com todas estas medidas, com todo este cuidado...e tudo isto leva tempo!
O meu pensamento volta novamente para aqueles idosos com quem me cruzei no supermercado! Farão eles todo este processo? Terão eles todos estes cuidados? Paciência e tempo para o fazerem não lhes falta certamente, no entanto, terão acesso a toda a informação, terão consciência que é necessário fazer tudo isto cada vez que se sai de casa?!
Seria tão mais fácil se eles ficassem em casa e fossem os mais novos a providenciar que não lhes falte o que necessitam...deixo o meu apelo: cada vez que precisarem de ir à rua, confirmem se os vossos vizinhos ou os idosos vossos conhecidos necessitam de alguma coisa. Disponibilizem-se a ajudar, aconselhem e façam companhia (à distância é claro) àqueles que vos rodeiam. Porque somos humanos, somos solidários, resilentes! Somos capazes de fazer isso....eu acredito! Acredito que agora que o sol se põe, nos devolve a esperança num amanhã mais solidário com os mais frágeis!


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Do tempo neste intervalo de um ano!


E por vezes as noites duram meses 
E por vezes os meses oceanos 
E por vezes os braços que apertamos 
nunca mais são os mesmos  
             David Mourão-Ferreira, in 'Matura Idade' 

Passaram exactamente 12 meses desde o meu último post neste blog! Vá lá saber-se porquê?!
Não tenho uma explicação plausível e devidamente aceitável... sei que no final do Verão, novo ciclo se abriu...

A B. iniciou o 3º Ciclo (OMG....), Setembro foi o mês de novo ano letivo com todos os afazeres...

O Outono trouxe de volta os livros, os afazeres na pequena horta ao fundo do quintal, as compotas com os frutos da época...
Continuei o voluntariado e as caminhadas. Por vezes os passeios de bicicleta pela Foz, quando a marginal era a via dos pensamentos.
E quando dei conta estávamos no tempo das castanhas e num ápice as cores a as roupas mudaram!
No norte rapidamente chegam as chuvas e o frio e parece que tudo emudece...
E eu que não gosto nada do Inverno, pareceu-me tão longo este último.
Demasiado longo para que nele coubessem tantas coisas...
Nem sei muito bem como evoluíram os dias, sei que se sucederam...
Mudaram algumas rotinas... Abracei um novo projeto profissional. Denso e trabalhoso... Um desafio que me ocupou e preocupou inverno dentro! Com viagens, amigos e família atravessados por dias cada vez mais curtos.
Quando dei por mim, tinham passado tantas noites sem escrever nada, sem registar mais um Natal, o 12º aniversário da B., a entrada de um novo ano cívil...Enfim! Eis que chgou de novo o Verão e a vontade de blogar...













"Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos" (Cunningham, M. in As Horas)
E estou de volta!

sábado, 12 de agosto de 2017

Mata da Margaraça e Fraga da Pena: a bela rota do Xisto que nos foi oferecida!

"Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam".
        José Saramago, A Viagem do Elefante

Deixamos do Piódão com o nosso mapa e a rota marcada pelo moço do Bar! Estávamos decididos a seguir o percurso que ele nos propôs. Uma rota que nos permitiria passar por Mourada Serra, a Mata da Margaraça, Fraga da Pena, Benfeita e terminar em Côja.


A Serra do Açor na sua imensidão acolhe inúmeras aldeias e sítios encantadores, serra e água conjugadas no seu esplendor! Assim, há que escolher pequenos circuitos de cada vez para apreciarmos com tempo cada pedaço desta beleza natural.
A rota desta manhã não tem muitos quilómetros, mas a estrada pela serra a serpentear os rios e a contornar a montanha leva o seu tempo a fazer. O homem aqui não fez a estrada que quis, mas antes a estrada que a natureza permitiu.
Fala-se em  natureza e eis que entramos no fabuloso mundo da Mata da Margaraça.
Esta mata é uma relíquia da floresta de vegetação primitiva existente nas encostas xistosas da Serra do Açor albergando um elevado número de espécies e biótopos com interesse cientifico e para a conservação da natureza.
É um oásis refrescante que surge no meio da Serra e que altera completamente a paisagem. Deixa-se o ar quente e seco e a estrada desprotegida, para nos adentrarmos pela floresta densa, tranquila e fresca.
Esta mata está documentada desde o final do séc. XIII durante o reinado de D. Afonso III, era, então a Quinta de Margaraz, foi propriedade dos Bispos Condes de Coimbra, altura em que o então titular, D. Egas Fafe, a adquiriu. No séc. XIX, foi incluída na lista de "bens nacionais", após a derrota dos Miguelistas. Em finais do mesmo século foi adquirida por particulares, entrando na posse do Estado em 1985.
Logo à entrada encontramos a Casa Grande que se constitui em Centro de Interpretação.  a Mata da Margaraça está sob proteção do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade desde 1985, salvaguardando os valores naturais, culturais, científicos e recreativos existentes. Considerado o último reduto da floresta nativa que cobriu toda a região da Beira Serra, estes 68 hectares de mata impõem-se como uma verdadeira relíquia da primitiva floresta portuguesa. A Mata da Margaraça é ainda um fantástico laboratório natural devido à sua elevada biodiversidade.


 Há aqui todo um mundo a explorar, de enorme riqueza quer ao nível da flora quer da fauna. Carvalhos, castanheiros, cerejeiras, ulmeiros, azevinhos, freixos, azereiros, loureiros e outras, são algumas das espécies que constituem o seu estrato arbóreo. O estrato arbustivo conta com o folhado, aveleiras, aderno, gilbardeira. Ah! E os medronheiros....há tanto tempo que não via medronheiros tão grandes...memórias de infância e dos tempos em que corria por outras matas!
Continuemos o nosso passeio... ainda dentro da mata alguns quilómetros à frente avistamos a placa de Fraga da Pena!



A água, por enquanto, não se vê, mas acompanha-nos, no ouvido, articulada com o canto dos pássaros, numa espécie de comissão de boas-vindas pura, natural.
Neste caso podemos  dizer que há acidentes que são uma bênção! Pois, foi devido a um acidente geológico atravessado pela Barroca de Degraínhos, que teve origem um conjunto de quedas de água sucessivas. Estas, denominadas de Fraga da Pena!



Parece que entramos num dos filmes de Indiana Jones! Atravessamos pontes de madeira, subimos degraus escarpados na pedra e sempre a acompanharmos o som da água!
As águas que se despenham desta cascata correm por um vale muito apertado na montanha, que surge de forma repentina, dotada de vegetação abundante a cobrir o xisto. O desnível da Cascata da Fraga da Pena chega aos 20 metros de altura.
E a água cai numa lagoa onde apetece mergulhar e repousar...aqui os deuses devem ter-se perdido de amores pelo homem para lhe oferecerem tamanha maravilha!
É um paraíso natural escondido que esperamos se perpetue no tempo e sobreviva à loucura dos mercados e do turismo...




O espírito está regenerado mas nem só de beleza e de repouso vive o homem! Também observámos muita gente a piquenicar neste recanto, e já passa das14h, é hora de alimentarmos o corpo e a B. depois do banho está esfomeada....rumo a Côja para o almoço!