sexta-feira, 1 de maio de 2020

As Maias em tempo de Pandemia

Mês de Maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores.
Provérbio Popular

Ora, vamos lá falar das Maias e desta tradição também portuguesa. Contrariamente a muitas das pessoas do Norte que conheço, não cresci com esta tradição e só a conheci quando estudava na faculdade em Lisboa!!! Imagine-se uma tradição na Capital sem ser a festa do Stº. António...De facto, lembro-me perfeitamente de ver as senhoras com cestos cheios de raminhos de giestas para venderem nas saídas do Metro. E talvez faça sentido que em Lisboa esta tradição estivesse bem viva na minha juventude, pois, segundo um dos nossos historiadores esta celebração pagã aparece registada em Portugal na Lisboa Medieval:
Leite de Vasconcelos [3] refere o costume português das Maias como a mais antiga menção desta festa popular, festa evidentemente naturalística, posto mais ou menos desviada da sua significação primitiva, já pelo próprio Paganismo, já pelo Cristianismo, creio que se acha nestas linhas da Postura da câmara de Lisboa de 1385: «Outro sim estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do ano». (Vasconcelos, José Leite de, 1938. OPÚSCULOS)
Esta festa, de reminiscências pagãs, foi proibida várias vezes em Lisboa , voltou a acontecer no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...". 
Mas Afinal o que significavam as Maias??? Há muitas explicações...
Segundo alguns, a Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno do qual havia danças toda a noite do primeiro dia de Maio. Por vezes, podia ser também uma menina de vestido branco coroada com flores, sentada num trono florido e venerada, todo o dia, com danças e cantares. 

 Segundo outros autores, Maio recebeu o nome do deus Maius que era o deus da Primavera e do crescimento. Para outros o nome do mês de Maio terá tido origem em Maia, mãe de Mercúrio, e a ele está ligado o costume de enfeitar as janelas com flores amarelas. As celebrações em honra de Flora, a deusa das flores e da juventude (mãe da Primavera), iniciavam o novo ano agrícola e atingiam, na Roma antiga, o seu clímax nos três primeiros dias de Maio.


Seja como for, todos estes rituais pagãos estavam ligados ao rito da fertilidade para com o novo ciclo da natureza, à celebração da Primavera ou ao início de um novo ano agrícola. 
Mais tarde, houve necessidade de lhe incutir algum sentido religioso, promovendo a sua ligação à Festa da Santa Cruz ou ao Corpo de Deus. Esse facto pode justificar a lenda do Alto Minho, segundo a qual Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino Jesus, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime... 
A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de giesta florida à porta, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus, ser morto.

Talvez resultado desta lenda, hoje em dia ainda é possível observar em algumas zonas do nosso país, a colocação de ramos de giestas em flor, ou até mesmo coroas feitas de ramos de giestas, conjuntamente com outras flores e enfeites coloridos, nas portas e janelas das casas ou nos automóveis, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio.
Todas estas celebrações do 1º de Maio, estão relacionadas com um certo um sincretismo de práticas e crenças, talvez de origens diferentes mas todas convergentes, recobrindo a obscura ideia, que subsiste no espírito do Homem, da necessidade de desencadear formas efetivas de proteção e de esconjuro a opor à insegurança da vida e à omnipresente ameaça do mal.
E assim, um pouco por todo o Norte do País no dia 30 de Abril vão-se colher as giestas e nessa noite, antes da meia-noite é tradição que se coloquem à porta de casa as giestas floridas, a que também se dá o nome de maias por florirem em Maio. 
Por crendice ou simplesmente por tradição um pouco por todo o Porto é possível ver as portas e janelas enfeitadas com os ramalhetes de maias. Desde que vim para cá morar que também me habituei a ter as Maias à porta durante a noite de 30 de Abril para 1 de Maio. Mas o mais engraçado é que ao longo de todos estes anos nunca apanhei as Maias nem as coloquei. Tive sempre uma vizinha que se ocupava dessa tarefa e sempre me disse que era importante manter o ramos durante a noite em todas as portas de casa para afastar o "carrapato"... ou seja o Diabo, mas há, também, quem diga que afasta o mau-olhado, as bruxas de casa, os maus espíritos, as doenças e as trevas... 
Mas há variante regionais no nosso País. No Minho, Douro Litoral e Beira Litoral o ritual passa pela colocação de maias nas janelas, portas e varandas e até nos automóveis e tratores. 
Todavia, nas restantes regiões do país este dia é, ou era, celebrado de uma forma algo diferente. Em Trás-os-Montes, além de se enfeitarem as portas das casas com flores de giestas, as raparigas adornam um menino que dizem repre­sentar o “Maio-moço” e passeiam-no pelas ruas com grande ruído alegre, cantando e bailando em volta dele. 
Na Beira-Alta e na Beira-Baixa (embora nesta apareça excecionalmente um boneco de palha) são também rapazes ataviados de giestas quem personificam o “Maio”, centralizando o peditório cerimonial em dinheiro ou castanhas.
Na Estremadura, a “Maia” é uma rapariguinha adornada com flores que percorre as ruas da povoação acompanhada pelas companheiras.
No Alentejo as “Maias” são meninas que se vestem de branco e se enfeitam com flores, pondo na cabeça uma coroa de mais flores, e sentam-se em cadeiras, o seu trono, à esquina de alguma rua, nalgum largo ou junto à porta de sua casa, enquanto companheiras mais crescidas, com pequenas bandejas na mão, pedem a quem passa: “Meu senhor, um tostãozinho para a maia”.

No Algarve, em quase todas as casas é costume arranjar-se um grande boneco de palha de centeio, farelos e trapos que depois vestem de branco e cercam de flores. É a “Maia” colocada à vista de quem passa.
Este hábito de se colocarem giestas amarelas às portas, nas janelas e nas varandas não se perdeu, e por isso, este ano, já que estamos em Pandemia e descobri numa das minhas caminhadas um caminho cheio de giestas, decidi manter a tradição e fazê-la a preceito.
Ontem à tarde fui colher as Maias e fiz os raminhos...
E à noite depois do jantar fui colocar à Porta, na minha e nas das minhas vizinhas que me querem bem...Não sei se chegará para afastar o "bicho mau" (Covid-19) mas pelo sim pelo não lá coloquei os ramos na Esperança que as giestas tragam a luz...


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