terça-feira, 27 de setembro de 2016

Digam lá que os nossos espantalhos não são giros?!

"Dorothy (...) encontrou um espantalho pendurado num tronco. Dorothy soltou-o e ele disse-lhe que queria ter um cérebro para poder pensar. Então Dorothy convidou-o. Venha comigo, o Feiticeiro de Oz lhe dará um."
   Baum, L. Frank. O Feiticeiro de Oz. Relógio d'agua.
Quando estivemos na festa de Outono de Serralves, eu e a B. Passámos grande parte do tempo na oficina " à volta da palha" a fazermos espantalhos. Já vos disse isto. Melhor, fizemos a estrutura de quatro espantalhos. Ontem à tarde, depois dos deveres feitos, a B. com a sua criatividade de designer ajudou-me a dar forma e terminámos os nossos espantalhos.
Aproveitámos meias desaparelhadas  ( temos um saco cheio dessas peças únicas que inexplicavelmente se vão perdendo do par. Ainda gostava de perceber este fenómeno, não há semana que não tenha uma meia desaparelhada....) restos de tecidos, roupa velha, jornais antigos....para fazer as cabeças e vestir cada um dos espantalhos.
A tomar conta das alfaces e do alho-francês colocámos o casal de horticultores, Gertrudes e Jaime.
Presa a uma estaca frente à framboeseira e ao chuchu está a nossa eco baby que também tem a missão de proteger um dos abrigos de inverno dos insectos. Assim, não se sente sozinha e em breve terá novos amigos.
A nossa mulher das Couves, D. Maria repolho está orgulhosa a ajudar as couves-roxas e os espinafres a crescerem mais tranquilos.
Estas duas novas culturas foram obra do meu trabalho desta manhã.
E agora que na horta temos estes novos habitantes muitas histórias acontecerão certamente no inverno.



domingo, 25 de setembro de 2016

Fomos à festa de Outono de Serralves fazer espantalhos!

Plantoir, Claes Oldenburg e Coosje van Bruggen, 2001
Poderíamos encontrar melhor forma para celebrar a chegada do Outono do que a festa de Serralves?! Claro que não!!!
Há 8 anos que a festa de Outono se realiza em Serralves, perto do fim de Setembro, e, até este ano era sempre um só dia. Embora a edição deste ano decorra pela primeira vez durante todo o fim-de-semana, eu e a B. optamos por continuar a preferir o sábado e hoje lá fomos todas expectantes e....cautelosas! A última festa de Outono em que participámos juntas foi há 3 anos e a bem dizer deixou-me um fardo pesado na memória, rebocaram-me o carro!!! Pois! Logo, este ano fomos só depois do almoço mas sem pressa de chegarmos, tinha era de encontrar um lugar de estacionamento correcto e sem correr riscos....bem, isso custou-nos uma boa mas animada caminhada.
Assim que entrámos percebemos que o parque  se tinha vestido com a nova estação. De programa na mão seguimos em direcção ao Prado. 


Envolvemo-nos na multidão pela Alameda dos liquidambares, passamos a casa de Serralves, essa jóia de art deco, outrora casa do conde Carlos Alberto Cabral e descemos a Parterre central.



Nestes dias de festa os 18 hectares do parque parecem pequenos, mas é sempre fascinante sentir esta imensidão de gente a dar formas outras aos espaços.
Percorrer o parque é fazer uma viagem pela vasta fauna e flora que se estende numa diversidade harmoniosa hábil e meticulosamente criada por Jacques Greber nos anos 30 e que em 2001 foi reabilitado num projecto que vale a pena conhecer pormenorizadamente aqui http://www.serralves.pt/pt/parque/projeto-de-recuperacao-do-parque/

Depois do lago, no passeio da levada vimos os burros de Miranda 

E finalmente avistamos o Prado em festa!
 
Tantas oficinas, oportunidade para aprendermos e construirmos coisas.... a B. quis começar pelos moinhos de vento!

Mas  o nosso grande objectivo era fazer espantalhos para a horta! Antes, conseguimos improvisar uns abrigos de inverno para os insectos amigos das plantas.

Foi giríssimo estarmos ali sentadas a unir pedaços de palha com fios e a tentar dar forma aos espantalhos entre batalhas de palha. Os miúdos  (e alguns graúdos também) da cidade deram-se à liberdade de brincarem e atirarem palha numa autêntica chuva a que ninguém escapava. E sabia bem ver a felicidade estampada naquela malta. E por ali nos demorámos e entretemos até por volta das 19h.
Ainda conseguimos espreitar o mercado da festa e a feira de artesanato urbano.

E pronto, amanhã haverá mais festa! Quanto a nós cá estaremos para o ano que agora há que subir novamente tudo até aos portões e daí até ao carro....que boa iniciativa esta para unir portuenses e não  só, permitindo o regresso a outros tempos numa época em que são preciosos os momentos de convívio e de partilha....quanto aos espantalhos, esperem em breve por novo post e irão encontrá-los na horta!;)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Apanhar perpétuas roxas no Cantinho das Aromáticas

"(...)os olivais que nos cruzaram, ajoelhavam...Havia nuvens no ar que nos seguiam...
O vento...acompanhou-nos, veio deitado nas nuvens...os corvos seguiram-nos também. ..
E voavam entre eles as andorinhas (...)o ar...todo o ar cheirava a urze. "
         António Patrício,  Pedro, o cru.
Quando se entra no Cantinho das Aromáticas e olhamos a beleza da quinta com o pombal ao fundo, não é difícil imaginar Pedro e Inês apaixonados a correrem para se esconderem na construção circular de pedra...o Amor proibido que constitui uma das mais belas ( e trágicas) histórias da nossa própria História, o amor entre D. Pedro e D. Inês de Castro, cruza-se com a quinta onde desde 2002 se encontra este promissor projecto do Cantinho das Aromáticas cuja história pode encontrar aqui http://www.cantinhodasaromaticas.pt/o-cantinho/
Andava já há algumas semanas para ir ao Cantinho comprar uns vasos de aromáticas para colocar no quintal, quando numa espreitadela rápida pelo site de modo a ver novamente a direcção  ( sim, que nas duas vezes em que já lá tinha ido andei  perdida!!!) Li que esta quinta-feira haveria colheita de perpétuas. Ena, não iria perder esta oportunidade.


Assim que se entra na quinta apetece cantar a canção do Rui Veloso
Tília trevo e açafrão 
Erva pura pimentão 
Louro salsa e cidreira
Urze brava e dormideira
É esse conjunto de cheiros que se inala a cada passo. Todas as plantas aromáticas que possamos imaginar existem aqui em belos e cuidados canteiros.  Mais de 150 espécies, todas Bio.
Que fantástico projecto. Não  é  por acaso que esta é a única quinta urbana certificada como produção totalmente biológica desde as sementes ao produto final. E o seu mentor deve estar bem orgulhoso pelos prémios já ganhos. Luís Alves, o jovem empreendedor que sonhou um projecto sustentável já foi o responsável pelos jardins de Serralves, talvez isso explique a beleza de cada recanto...
E o amor à natureza aromatizada. Um amor que se continua a viver por aqui...
Uma herança inestimável às novas gerações . Mas  voltemos às perpétuas roxas, afinal foi por elas que esta tarde vim...


Que flores tão mágicas, pequenas e delicadas e grandes nos seus  poderes. Quem diria que estas herbáceas são anti-inflamatórios naturais e que são preciosas aliadas de cantores. Parece que esta infusão era uma das preferidas da Amália. Pena que não tenha podido experimentar a infusão do Cantinho!
Durante estas curtas horas de voluntariado na quinta tive o prazer de encontrar uma simpática e "experiente" companheira que me foi falando da sua magnífica experiência aqui pelo cantinho e de um grupo habitue com quem tem partilhado estes momentos tão tranquilizantes. O tempo passou rápido. A Tia Graça ( tia do engenheiro Luís, tia nossa também), uma delícia de senhora, que na sua simplicidade nos ensina a colher as flores e com gestos delicados nos envolve nestas tarefas, a horas nos fez terminar o trabalho e ainda posou connosco.

No final, na loja da quinta havia chá de Erva-príncipe e de amor perpétuo com biscoitinhos a esperar por nós. Ah, e a simpatia do Luís Alves que hoje fazia anos. Tivemos assim oportunidade de lhe dar os parabéns e desejar felicidades, que é aquilo que se espera deste projecto.
E agora enquanto escrevo este post saboreio com mais saber a infusão de perpétuas roxas com a esperança de regressar na próxima quinta-feira para continuar a ajudar na colheita.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A ver o mar na esplanada da Praia da Luz...

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim
Sophia de Mello Breyner Andersen

Agora que oficialmente o verão está a chegar ao fim, apetece apanhar os últimos raios de sol à beira-mar. Ficar a contemplar o mar, nas suas ondas mais ruidosas e constantes. A areia mais brilhante e desafogada de pessoas.
Apetece conversar e ficar a olhar...
A Foz abriga uma das mais belas esplanadas, de vista privilegiada com o mar a abrir o horizonte, nada melhor do que acabar a tarde ao ritmo de um longo por-de-sol. 
A esplanada da Praia da Luz é um dos locais mais bonitos e bem situados mesmo no coração da Foz, espaçosa e bem decorada, podemos almoçar no restaurante ou ficar ao sol num dos verdes sofás e tomar uma bebida. A decoração é muito agradável, tranquila e os tons pastel convidam a momentos de relaxamento.
Confesso que é uma das minhas esplanadas preferidas, mesmo de inverno. Gosto de vir até aqui nas manhãs de Domingo e ficar a ler o jornal com o vento frio a tocar a face. Por ora, a brisa é suave e calma. Respira-se mais devagar. Enche-se a alma.
Mas infelizmente o serviço aqui deixa muito a desejar. Mesmo numa tarde em que se contam pelos dedos os clientes, os empregados parecem baratas tontas, muito desorganizados...Quis uma bebida, fartei-me de acenar e nada! Tive de me levantar e abordar uma empregada que me disse que estava numa zona reservada. Espantada retorqui que não vi nenhum marcador a indicar reservado. Novo espanto! Afinal o colega ia nesse momento reservar aquela área para um grupo. Bem, mudei-me. Nova e demorada espera. Olho as meninas a divertirem-se e aguardo pacientemente.
Vale a pena apreciar o momento, saborear os raios que se acanham...
Esta  esplanada podia ser perfeita. É  só  mesmo organizar melhor o serviço,  foi difícil conseguir um fino para celebrar o momento! !!





terça-feira, 20 de setembro de 2016

A arte de bem receber: do porto tónico ao risotto de cogumelos

Agrada-me esta nova forma de receber amigos na cozinha e de ir degustando as entradas enquanto se prepara o prato principal. Felizmente vivemos numa era mais informal e longe vão os tempos em que convidar alguém para jantar em casa exigia um rígido protocolo cheio de etiqueta que só servia para colocar os anfitriões num stress e bastava para alterar a rotina da casa uns valentes dias antes do acontecimento. É assim que me lembro de alguns jantares de infância em casa dos meus pais.
Ainda bem que sou filósofa e que gosto da simplicidade dos encontros. Quando  planeei a minha cozinha pensei desde o início que teria de ter uma ilha para sentar os amigos. E foi isso que fizemos neste jantar.
Iniciámos as hostilidades gastronómicas com uma tábua de queijos, doce de abóbora caseiro, paté e um Porto tónico.
Para o cocktail  elegi um  Real Companhia Velha Malvasia que deitei sobre uma camada generosa de gelo, uma rodela de limão e umas folhas de hortelã, depois foi adicionar a água tónica e....brindar!
enquanto conversavamos vesti a pele e o avental, diga-se a bem da verdade, de chef e cozinhei um risotto de cogumelos portobello com gambas quase num piscar de olhos.
A terminar um saboroso cheesecake de frutos vermelhos da confeitaria Tavi.
E pronto, escusado será dizer que esta noite a dieta foi para o galheiro, mas todos os comensais ficaram bem servidos!!!



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Na livraria Lello com a minha amiga polaca!

"Os optimistas acreditam que este mundo é o melhor possível, ao passo que os pessimistas suspeitam que os optimistas podem estar certos... (...)Existe uma terceira categoria: pessoas com esperança !"
         Zygmunt Bauman
Ter uma amiga a visitar-me e pela primeira vez  no Porto é um duplo privilégio, pessoal e turístico,  pois tenho a oportunidade de a levar a conhecer a cidade, de ser a sua guia e de a conduzir pelos recantos da invicta. 
Comecei como boa anfitriã pela livraria Lello, a casa mãe dos escritores, ex-libris obrigatório de visita. Primeiro olhar sobre a beleza inconfundível da fachada neogótica com as suas duas pinturas, a arte e a ciência a ladearem a entrada. Depois da fila e de bilhete comprado entramos e somos de imediato engolidas pela multidão de turistas e pelo ruído poli linguístico. Estamos na editora de Eça de Queirós, Camilo de Castelo Branco, Antero de Quental e tantos outros grandes escritores admirados e publicados pelos irmãos unidos, António e José Lello os burgueses intelectuais que ainda em finais de séc. XIX (1894) compraram a antiga livraria Chardron com todo o seu espólio e começam a intervir no desenvolvimento cultural da cidade publicando as primeiras edições com a colaboração dos artistas plásticos republicanos que emergiam nessa altura.
 Estavam  certamente longe de imaginar que dois séculos depois a sua livraria se transformaria numa das mais reconhecidas em todo o mundo. Longe de imaginar os milhares de turistas a subirem a escadaria de carmim.
E aqui estamos nós a percorrer o palácio da memória. ...folheamos juntas livros e recordamos a nossa primeira feira do livro no Colégio em Luanda. A Natália foi o meu braço direito, podia dormir descansada pois, a área administrativa e financeira estava em boas mãos. Trabalhamos em conjunto e sempre nos demos bem, porque punhamos toda a nossa experiência e profissionalismo naquilo que fazíamos. É a isso que se chama dignidade no trabalho. Decus in labore, a insígnia que se vê entrelaçada no monograma no belíssimo vitral da Lello.
Este vitral que nunca tinha sido retirado até  aos finais de julho e que foi todo limpo e reabilitado a primeira vez para o lançamento mundial de "Harry Potter and the cursed child", a festa em que a Lello também participou.
É  fantástico estarmos aqui as duas, de novo, entre livros, afinal no nosso mundo.
 Falamos de histórias e de autores, escolhemos livros para as meninas, ainda posso ajudar a seleccionar algumas gramáticas de português para estrangeiros. Na Polónia há muitos interessados em aprender português, a Natália fala bem a língua, é só melhorar e poderá vir a ser tradutora como quer. Não tenho dúvidas que será uma boa tradutora.
Tal como o sociólogo polaco disse, somos pessoas com esperança!  E não fazemos parte da massa de consumo que só é capaz de manter relações líquidas! Até podemos pertencer ao grupo das excepções, e mesmo agora no mesmo continente mas separadas por alguns quilómetros de distância, somos ambas viciadas nas novas tecnologias e sabemos bem que com um click nos manteremos próximas.

saímos da Lello  mais felizes e pesadas. 
Agora  vamos calcorrear as ruas aos risos. Bem-vinda à cidade do Porto !!!