terça-feira, 8 de agosto de 2017

Pela Serra a caminho do Piódão!

“Ao contrário de outras serras, (…); a Estrela não divide: concentra.”

     Miguel Torga

Quando se deixa a Covilhã via Unhais da Serra começamos a subir a Serra da Estrela pela encosta Sul! É uma pirâmide verde e montanhosa que se ergue e que começa a densar-se. Toma-nos a respiração e por esta altura o ar é tão puro quanto quente. Deixa-nos extasiados!
 Esta manhã optamos por fazer o percurso Unhais da Serra -Piódão! São cerca de 50 kms e quase duas horas de percurso (de carro) por entre montes, curvas e contracurvas. A serra da Estrela, pela sua massa e altitude é a principal montanha de Portugal Continental. Elemento maior da Cordilheira Central alberga o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), com 88.850 há.
A maioria das pessoas procura a Serra no Inverno devido à Neve, mas no Verão há uma outra Estrela a descobrir. A Serra das lagoas e pastagens de altitude, turfeiras, carvalhais e castinçais, áreas de mato e de floresta de produção. A paisagem verde e de granitos e xistos. Nascente de importantes rios, do Mondego, Alva e Zêzere, verdadeiro castelo de água a dominar as Beiras e assento de variadas facetas climáticas.

 

Foi em busca dessas paisagens bucólicas e idílicas que quisemos fazer este percurso. Talvez por ligações afetivas ou identitárias, ou tão só pela imponência das paisagens não me canso de subir a serra! Como boa beirã gosto dos verões quentes, do ar saturado, de ficar sem fôlego ao olhar para os vales a perderem-se de vista. E em família este roteiro tem outro sabor. Faz-me recordar a lenda de um pastor que falava com uma estrela e a quem um Rei prometeu dar muitas riquezas em troca dessa estrela. O bom pastor não cedeu. E para homenagear a sua amiga, um dia disse: esta serra há-de chamar-se Serra da Estrela.
Conta a lenda que no alto da serra ainda hoje se vê uma estrela que brilha de maneira diferente das outras estrelas, como que à procura do bom e velho pastor amigo.  

Sem dúvida, a Estrela é Mãe protectora! Esta natureza tem os seus braços a protegerem o extenso manto de terra e ouve-se o vento a marcar a cadência de uma viagem que inspira e nos faz sentir pequenos e maravilhados com o poder quer da natureza quer dos homens que conseguiram aqui construir vida e marcar território. O Homem não quis que estes rios corressem selvagens, como sempre foram. Nestes vales escavados pelas águas com pressa de serem ribeiras e rios, implantou barragens para transformar a força do fluir das águas em electricidade. Também aproveitou os socalcos e acidentes geromórficos para cultivar e construir belas aldeias escondidas que podemos descobrir em cada esquina.
 E neste roteiro quando deixamos a Serra da Estrela e entramos na Serra do Açor, mesmo antes de se chegar ao Piódão, encontramos um oásis natural - Foz de Égua! Um pequeno açude que foi sendo criado com a bifurcação das ribeiras de Chãs e do Piodão, e que resultou numa paisagem sem igual.

Seguindo em direcção ao Piódão pela margem direita da ribeira, o percurso continua pelas curvas da encosta, tendo como paisagem a extraordinária engenharia de conquista de espaço à encosta: as quelhadas ou socalcos. São patamares sobre patamares, escadas que ziguezagueiam os terrenos a cultivar. Verdadeira prova de esforço do homem.

Numa última paragem num miradouro improvisado olhamos finalmente para o Piódão! Que belo presépio de Xisto!



 

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