terça-feira, 8 de agosto de 2017

Piódão,finalmente! A aldeia presépio de arrebatar a respiração!

“…é bem certo que os paraísos não são todos iguais, há-os com huris* e sem huris, porém, para sabermos em que paraíso estamos basta que nos deixem espreitar à porta. Uma parede que proteja da nortada, um telhado que defenda da chuva e do sereno, e pouco mais é preciso para viver no maior conforto do mundo. Ou nas delícias do paraíso.”
   José Saramago, A Viagem do Elefante

Depois de muitas curvas e de subirmos a serra do Açor com um calor sufocante, e já um pouco impacientes por não chegarmos ao nosso destino, aliás,  esta é a  nossa segunda tentativa, porque o ano passado nesta rota desviamo-nos para irmos à praia fluvial de Loriga....e pronto, encontrámos muitas e belas praias fluviais e lá nos desviamos definitivamente do destino! Desta vez....uffff....aí está a nossa aldeia!
Vista Panorâmica do Piódão para quem vem de Foz de Égua 
A seguir a uma apertada curva abre-se à nossa esquerda o casario de xisto em escadinha! Que maravilhoso vislumbrar daquela que é por muitos considerada a mais bela aldeia de Portugal!
O Piodão mesmo ao longe deixa antever a sua beleza e a grandeza de um povo que teve a vontade e a coragem de esculpir e carregar a pedra para aqui se instalar!
É nestes momentos que me sinto orgulhosa de ser portuguesa,  de fazer parte da história deste povo tão valente e capaz de grandes feitos.
À medida que nos aproximamos da aldeia destaca-se do anfiteatro escuro de xisto a brancura ponteada a azul da igreja da Conceição que emoldura o mais belo postal deste local deslumbrante. É  em frente à sua escadaria que se encontra o largo da aldeia, um centro de vida e de bem receber que nos acolhe com as suas esplanadas cheias de turistas a degustarem a mais genuína gastronomia serrana.
Igreja Matriz de Piódão - igreja de nossa Senhora da Conceição
Quando no final do século XX a emigração terminou com décadas de vida de auto sustentabilidade baseada numa agricultura e pastorícia comunitárias, a aldeia não só ficou deserta como também degradada. Felizmente foi o turismo e a rede de aldeias de Portugal quem lhe devolveu um novo futuro. Por isso, o turismo aqui tem de ser bem-vindo. O artesanato e a gastronomia possibilitam o sustento, a par dos alojamentos bem planeados para que ninguém roube de novo a alma a este lugar.



Devem ter sido tempos bem difíceis os que estas gentes viveram. Perdidos e isolados no meio da serra, longe das comodidades das cidades, sem estradas e sem comunicações. A serra mãe protegeu-os. A herança genética em valentia e ousadia de um dos primeiros habitantes estava-lhes certamente no sangue para conseguirem a proeza de ali fixarem as casas, pedra sobre pedra, como se de um altar se tratasse. De facto, diz a lenda que os piodenses são descendentes de Diogo Lopes Pacheco (um dos carrascos de Inês de Castro), pois, após a sua fuga para Espanha, teria regressado a Portugal e se fixado ali. Este acontecimento teria lugar no século XIV.














Certo é que este casario em xisto e com telhados de lousa, janelas e portas de madeira azul, encaixa-se na perfeição pela encosta abaixo, e parece um paraíso a apelar a uma fuga. Dizem que acolheu políticos e fugitivos em tempos idos. Acredito mais que tenha acolhido amores proibidos tal é a sua beleza!
Percorrer as estreitas ruas, imaculadamente limpas e cuidadas e espreitar a cada esquina mais um recanto surpreendente, seja uma entrada com bonitos vasos, seja uma varanda de verde serpenteada, ou uma fonte, ou um recanto a servir de miradouro para a serra que se ergue e nos faz lembrar um filme bucólico e simultaneamente um cenário natural que é património nosso, é em todo o conjunto uma experiência maravilhosa de (re)encontro com a nossa identidade de povo descobridor e aventureiro.
Apetece ficar aqui à conversa com esta gente de afectos e simpatia, que nos recebe como filhos e nos quer contar histórias.




Se tivéssemos mais tempo ainda faríamos uma caminhada seguindo uma das sugestões que os percursos pedestres oferecem e voltaríamos a Foz d'Égua para conhecer o místico Altar e atravessar a ponte à Indiana Jones. Mas temos outros planos! O moço que nos atendeu na esplanada fez o favor de nos desafiar a fazermos uma parte do circuito do Açor que em seu entender é a rota mais bonita! Marcou no nosso mapa um traçado a ligar Moura da Serra - Mata da Margaraça - Fraga da Pena - Côja. E quem somos nós para questionar um piodense?!!! Daqui seguiremos o plano que nos foi traçado...

Últimas fotos, mais uns passos por esta aldeia cheia de charme e magia! Um lugar extraordinariamente bonito e relaxante que nos transporta a tempos mais simples e harmoniosos. Aqui tudo se conjuga de forma harmoniosa... saímos de alma cheia e espírito ainda mais livre e leve!





Sem comentários:

Enviar um comentário