sábado, 3 de junho de 2017

O Tesouro da Abissínia...o caderno de viagem do Pedro Mesquita que se deve folhear no CPF!

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!

   Alda Lara
Inaugurada há poucos dias a mais recente exposição fotográfica do casal de jornalistas Pedro Mesquita e Paula Mourão Gonçalves é sem dúvida, um fantástico e emocionante caderno de viagem pela Etiópia da actualidade.
Antes de entrar no Centro Português de Fotografia só me vinha à cabeça o célebre concerto Live Aid organizado por Bob Geldof no Verão de 1985. Tinha15 anos então, e talvez tenha sido a primeira vez que me arrepiei ao ver as imagens da fome na Etiópia. Nunca mais esqueci aquelas imagens de crianças com edema da fome...e da profundidade do seu olhar!
A mesma profundidade que encontrei nos meninos dos musseques de Luanda e que agora reencontro nas fotos de Pedro Mesquita.
 
"O Tesouro da Abissínia" conta em fotos e texto viagem ao quotidiano da Etiópia
 

 
Os textos de Paula Mourão Gonçalves são bastante intensos e descritivos...
e África é mesmo assim: "As crianças. Sempre as crianças. De um lado e do outro da estrada. Os uniformes da escola [...]Rodeiam-me. Olhos vivos, curiosos, fitam-me, medem-me, sorriem-me e ficam à espera que fale."
É engraçado como tenho exactamente a mesma sensação, julgo que é próprio de todas as crianças Africanas. Vivi esta experiência no Egipto, na Tunísia, em Marrocos e em Angola.
São crianças que vivem a caminhar!
 Fazem imensos quilómetros a pé diariamente. Vão a pé para a escola, caminham para ir à água, caminham para ir à Igreja, caminham para ir ao médico, enfim... vivem longe de tudo! Longe do mundo que se diz civilizado, como o nosso... E longe dos seus direitos!!!
Há um texto na exposição que evoca o filme África Minha, a música e a paisagem! Ao lê-lo recordei aquela que foi a viagem mais arrepiante e deslumbrante que fiz em Angola em 2012, de Luanda ao Uíge, cerca de 300 km pela Angola profunda em estradas térreas e degradadas, mas de uma beleza natural ímpar...uma viagem privilegiada, só permitida após o tempo de paz e que nos faz apaixonar pela terra laranja, das densas florestas tropicais, da savana, das curvas e contracurvas a serpentear rios...Dande, Cuango! Ocorreu-me esta viagem, porque nessa altura senti-me como se estivesse a adentrar-me por África Minha! Mas voltemos à exposição...

A história desta exposição fotográfica começou com o convite ao fotógrafo em 2014 para participar na Bienal de Fotografia de Adis Abeba e serviu de mote para a descoberta da Etiópia. 360 kilómetros. Nove horas de viagem separam Lalibela e Gondar. E muitas histórias para captar e contar...


 
Uma exposição que pretende lembrar a Etiópia cristalizada nas trágicas imagens dos anos 80, faminta e devastada pela guerra e pela seca.[...] mas onde há uma esperança que se renova.

Os povos Africanos são povos sofridos! Povos de lutas!
As crianças que fazem o caminho para a escola, com a tarefa de, no regresso, abastecer de água os bidões improvisados. Os miúdos que estudam matemática na berma da estrada. As mulheres carregando pesados fardos de palha. Os velhos de rosto marcado. Os caminhos da fé.
A viagem destes povos é um apelo à nossa capacidade de reflectir sobre as sociedades, as organizações, as políticas, os territórios...enfim!
Um apelo ao nosso olhar sobre uma realidade que nos deve deixar embaraçados e inquietos!
 
 
© Pedro Mesquita
 
Bem-Haja aos dois jornalistas viajantes pelo desassossego, pelo caderno de viagem exposto!
Esta exposição promove uma viagem interior à nossa memória, ao nosso íntimo, ao lado mais humano que em nós habita...
A não perder!
Se puderam vir ao Porto até Setembro aí está um tesouro que devem querer descobrir, Centro Português de Fotografia (antiga Cadeia da Relação).

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