sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Paço Episcopal do Porto: abriu-se o segredo mais bem guardado nos últimos 600 anos!

" o trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus.
Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu são os diversos corações dos homens.
Padre António Vieira in Sermão da sexagenária
Quando António Vieira escreveu este sermão criticando a nobreza católica barroca (1655), o Paço episcopal do Porto já existia mas ainda não tinha a imponência actual.
Pensa-se que terá sido construído no séc XIII e que ainda no período medieval tenham sido aí celebradas as bodas de D. João I com D. Filipa de Lencastre. Desses tempos resta uma janela barroca que mesmo à entrada do Paço quase passa despercebida.
E foi com Nicolau Nasoni que começou a grande e imponente reconstrução deste renovado Paço em 1734. Quem diria?! Nasoni, o artista italiano perseguido pela inquisição teria de saldar as suas dívidas com o trabalho e com a entrega à Igreja Católica de algumas das suas mais emblemáticas obras, pelo menos no Porto! Ironia do destino! Saíram os portuenses a ganhar...




Embora Nasoni tenha feito a planta e tenha dado início à obra, só acompanhou o projecto até 1737 e, embora as obras se tenham prolongado por mais um século, o seu projecto não foi concluído. D. Rafael de Mendonça quando foi nomeado bispo decidiu apressar o terminus da obra para começar a habitar o Paço...
E são precisamente as armas de D. Rafael de Mendonça que figuram sobre  a janela central acima do portal ladeado por frontoes rococó.
Entra-se no piso principal pela sala dos espelhos.
E daqui passa-se à sala verde. Sala das audiências onde às quartas-feiras o Sr. Bispo recebe os católicos que assim o queiram, razão pela qual o Paço está encerrado às visitas.

Seguimos para a sala vermelha, reservada às mais nobres e altas personalidades....Não era o nosso caso, embora sem qualquer modéstia possa confirmar que neste grupo há gente bem nobre! Eheheheh. ...
Como o senhor bispo não veio sentar-se no trono para nos receber fixei os olhos no mais antigo móvel da casa, um contador com 600 anos de memória e segredos!!!!!

Nestes espaços abertos agora ao público sente-se o peso da história do Porto. Este foi também um espaço de luta, e na altura do cerco do Porto aqui estava sediada uma bateria de defesa da cidade. Se a maioria dos danos foram colmatados com novas obras, a marca que nos faz lembrar essa época está bem visível na fachada interior principal, pois, há uma pintura que desapareceu e em seu lugar ficou o espaço vazio.
Já no séc. XX  ( entre 1916 e 1956) este edifício albergou os Paços do Conselho e nessa altura o recheio da capela foi roubado.

É apenas uma pequena parte deste monumental edifício que se pode visitar, mas felizmente já é uma parte que se abre à cidade e aos cidadãos, porque é parte da história do Porto e do seu Povo...
Abençoada a hora que me uniu a esta fantástica maltaromatica, pois, quiçá sem eles não teria conhecido este monumento...Depois de tantos anos fechado, a abertura do Paço ao público abre a curiosidade intelectual de muitos portuenses e não só! Feliz esta ideia, merecida abertura! Aproveito também para deixar o meu bem-haja ao Carlos Vieira mentor da nossa visita desta manhã.☺😊😃

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1 comentário:

  1. Foi realmente fantástica a "viagem" que 22 amigos realizaram ao Paço Episcopal, para assim admirarmos a arte e a história do edfício que se cruza com a própria história do Porto, e tão exemplarmente documentada com textos descritivos da Maria João, e tão bem complementados com fotos de alguns dos participantes. Em três quatros de hora de visita aprendemos bastante e por isso ficamos mais enriquecidos; assim, sugiro esta visita ao recém aberto edifício para contemplarem mais uma joia da cidade. Obrigado Mª João pelo seu interesse, que constitui uma mais valia para o grupo maltaromática.

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