sábado, 3 de dezembro de 2016

À descoberta do Natal Portuense de outrora!


Quando se faz parte de uma família portuense e se adopta a cidade para viver, há a obrigação moral e a curiosidade intelectual de querer conhecer o mais possível a cidade do Porto.
Ora, neste contexto e bem a propósito, o novo grupo ao qual orgulhosamente pertenço - o da malta aromática - organizou um passeio intitulado "Natal Portuense " com o professor César Santos Silva. E pronto, lá fui com a B.
Começámos na Praça Carlos Alberto com as primeiras orientações e explicações do professor César. ..

Seguimos para Cedofeita com Ruben A. a recordar-nos o Bazar dos 3 Vinténs : " ali, no Bazar dos três Vinténs, os meus olhos e um pouco de dinheiro deixavam expandir-se  os mil e um desejos de brinquedos de madeira, bolas, coisas acessíveis para se comprar a granel. Era aí que eu mercava os presentes para o Geninho e outros companheiros de jogos que nas férias vinham à Quinta brincar comigo. (...) É um bazar com espinha dorsal, tendo à direita e à esquerda montras contínuas de brinquedos,  espécie de vitrines onde o debruçar quase parte os vidros que guardam cautelosamente os brinquedos." ( Rúben A., O mundo à minha procura).
Quando no início da década de 50 o autor escreveu sobre este Bazar, ele ainda existia é certo, mas não o painel que o imortalizou com um Pai Natal, e que agora contemplamos vislumbrando a sua importância para os petizes portuenses de outros tempos!
Painel de Azulejos do pintor F. Gonçalves

Também Sophia de Mello Breyner Andressen  (prima e grande compincha de Rúben A.) escreveu sobre o Natal na quinta de família no Campo Alegre:
"O jantar de Natal era igual ao de todos os anos. Primeiro vinha a canja, depois o bacalhau assado, depois os perus, depois os pudins de ovos, depois as rabanadas, depois os ananases. " (Sophia de Mello Breyner Andressen, A noite de Natal.)
Esta descrição de Sophia vem de encontro ao que o professor César Silva nos disse, em tempos no Natal do Porto não era o bacalhau com todos que se comia, mas antes o bacalhau assado ou estufado.
Também não havia ainda o tradicional Bolo Rei. A tradição era comer Pão de Lo de Margaride comprado na famosa casa que se estabelecera na Travessa de Cedofeita e onde hoje  se encontra a Casa de lo.


Sobre o bolo Rei, infelizmente a minha memória não me permitiu guardar todos os dados e nomes importantes que o professor nos contou, mas retive que a primeira vez que o bolo rei chegou à cidade invicta foi em 1890 com a confeitaria Cascais que ficava na rua 31 de Janeiro. E que a boa maneira republicana portuense houve até quem quisesse alterar-lhe o nome para bolo presidente! Eheheh...os tripeiros são terríveis! Terrivelmente decididos! E pelos vistos sempre foram dados como bons garfos e as mulheres como boas cozinheiras...por isso, só se contentavam com os melhores produtos. E no séc. XIX parece que o mês de Dezembro era mesmo de azáfama, havia várias feiras espalhadas pela cidade. Uma das mais famosas era a feira do Pão e do centeio que decorria na Praça Guilherme Gomes Fernandes, conhecida na altura como Praça do Pão.


E se nos restam as fotos para atestar e recordar estes factos, felizmente ficou também a afamada Padaria Ribeiro! Mas, sobre as iguarias desta famosa padaria falarei em breve...eheheh

Que belos tempos devem ter sido esses que ontem tivemos oportunidade de descobrir. Mas, só malta com bom gosto e de fibra é que quer perceber estas tradições e influências do passado no nosso presente.
Resta-me agradecer ao Carlos Vieira, a Zélia Neno e a Luísa Castro pela belíssima organização deste passeio. Ao professor César Silva pelos sabores do seu saber. Um agradecimento muito especial a Maria Godinho e à São Gonçalves por me permitirem usar as suas fotos.
E claro, bem-haja a todo o grupo da malta aromática pela companhia neste passeio com sabores e saberes de outros tempos!

2 comentários:

  1. Muito obrigado MJ pelas suas oportunas divagações àcerca do passeio noturno do grupo Maltaromatica, que organizei, muito bem liderado pelo professor César Silva, um grande contador de histórias ligadas ao Porto. Com os seus apontamentos podemos reter importantes lições e recordarmos sempre que desejarmos. Até já .... ao próximo encontro.

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    1. Bem-haja Carlos pelas simpáticas palavras, fico satisfeita por também contribuir com o blog para a memória futura deste fantástico grupo.

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