segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Roupa velha no dia de Natal!

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
(...) de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
    António  Gedeão,  Dia de Natal in " Antologia Poética"
Foi ontem. Foi dia de Natal.
A minha festa preferida desde sempre, por tudo. Pela magia, pelas luzes na cidade, pela simpatia acrescida das pessoas, pelo prazer de dar presentes, pela família, pela ementa, pela azáfama. Gosto de tudo nesta quadra. Desde cedo, desde sempre!
As minhas memórias de Natal são boas e ruidosas. Foi sempre o Natal em Coimbra com a avó Tina, o padrinho, as tias e os tios paternos e o primo Filipe. Claro, com os pais e manos. Era sempre igual durante anos...chegavamos de véspera, começavam as compras na baixa. No dia 24 havia paragem obrigatória no mercado D. Pedro V, era preciso apressar a avó e essa era tarefa difícil....eheheheh. Depois, era a confusão própria da consoada. O problema era o bacalhau... E até à idade adulta essa era a parte chata do Natal, porque não gostava de bacalhau cozido, mas a avó não deixava que nos dessem outra coisa, dizia sempre: " os meninos não gostam comem menos ao jantar e comem mais na ceia". Sim, porque nesses tempos havia o jantar e por volta das dez da noite voltavamos a pôr a mesa para a ceia de Natal, com mariscos, carnes frias, bolinhos de bacalhau e os doces: as filhoses, as rabanadas, aletria, arroz doce, bolo rei e as belhoses da avó! Depois, à meia noite em ponto chegava o Pai Natal com as prendas e era a euforia total!
Foi sempre assim até 2005, ano em que nasceu a minha filha B. Nesse ano, com 7 dias a B. Foi o menino Jesus da casa, e no nosso apartamento de Viseu fizemos o nosso primeiro Natal com todos.😀 A família de Coimbra e a família do meu marido, os do Porto.
Foi um Natal muito especial. A apresentação da B.  No ano seguinte foi o último Natal com o meu pai.
E desde aí o Natal passou a ser aqui em casa, no Porto!
Agora os rituais são diferentes. Fazemos a consoada, mas  não há ceia ( com muita pena minha). Variamos no número, pois, cada um tem outras famílias com quem têm de se dividir. A B. fica sempre mais contente quando tem as primas para brincar, e enquanto as meninas acreditaram houve sempre pai Natal. A ementa também mudou, ou melhor, aumentou. Junta-se a tradição e as iguarias da Beira com os pratos do Porto.
E é um desses pratos típicos do Norte que quero partilhar convosco: a roupa velha!
Este prato é da responsabilidade do chef de casa e já não o dispensamos. É o primeiro prato do almoço de dia de Natal.
Ontem como éramos poucos ao almoço houve roupa velha e cabrito assado no forno.
Enquanto eu temperava e preparava o cabrito para ir ao forno, o chef da casa preparava a roupa velha. Ser anfitriões é um prazer mas dá trabalho....eheheh


Vamos então à receita!
Não se sabe muito bem qual a origem e quando começou a " roupa velha" a fazer parte das mesas nortenhas, julga-se que se chama assim, por ser feita a partir dos restos da consoada e por estar tudo esmagado!
Aqui em casa ele pega nas sobras da consoada: bacalhau, batatas, cenouras, pencas e grelos e começa por tirar as espinhas ao bacalhau e por desfazer tudo em pedaços numa taça grande. Depois amassa tudo à mão e rega com azeite e alho, perfuma com cominhos e decora com os ovos cozidos partidos em fatias. Por fim, coloca tudo num tabuleiro e vai ao forno aí uns 20 min.
Depois é só saborear!
Este agora é sempre o nosso primeiro prato em dia de Natal! E este ano estava bem saboroso....


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