segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Janeiro no Jardim João Chagas ou será Jardim da Cordoaria?!

"A lei do universo baseia-se sobre o concurso destes dois agentes: a luta pela vida e a selecção natural. A luta pela vida é o estado permanente de todos os seres, para os quais a criação é uma eterna batalha. A sorte do conflito decide-a a selecção natural."
      Ramalho Ortigão  in " As Farpas".
Ramalho Ortigão não escreveu esta frase a pensar no jardim da Cordoaria e o seu busto ainda aqui nem estava por essa altura. Porém, é um facto que graças à selecção natural este jardim tem sobrevivido ao tempo, à força da natureza e até ao Cerco do Porto, e, continua actualmente a afirmar-se com vida no centro da cidade do Porto.
Quando no período seiscentista D. Filipe II criou a alameda da Cordoaria, certamente não imaginava que este espaço verde se transformasse e se afirmasse num dos jardins mais antigos e emblemáticos do Porto, já no séc XXI.
A testemunha mais curiosa de todas as mutações é um olmo que o povo chamou " árvore da forca" e que sobreviveu até à década de 80 do século XX, escapando ao abate das árvores da Cordoaria durante o Cerco do Porto (1832-1833). Aguentou duas tempestades naturais e nunca serviu para enforcar ninguém. ...eheheh
Por falar em tempestades, a revolução de 2001 que quase toda a cidade sofreu para se transformar em Capital da Cultura, também  virou a estátua de Ramalho Ortigão, que nessa altura ficou de costas viradas ao jardim para contemplar o outro lado do Campo Mártires da Pátria com as igrejas dos Carmelitos e do Carmo ao fundo.
Mas, desde que o alemão Emile David dirigiu os trabalhos deste jardim público que ele passou a ter lago e coreto, bem como diversas estátuas tais como, o busto do escritor António Nobre e a belíssima escultura de Teixeira Lopes "a Flora".
coreto

vista do jardim com o busto de António Nobre

A Flora

o lago
 Quando em 2001, no âmbito de Porto Capital Europeia da Cultura se renovou novamente o jardim com os arquitectos  paisagistas João Nunes e Carlos Ribas, Camilo Cortesão e Merces Vieira ganhou-se em termos artísticos, pois, novas estátuas chegaram. Da Praça da República veio a escultura de Fernandes de Sá, " o rapto de Ganimedes" e foi instalado o conjunto das quatro bancadas denominadas " Treze a rir uns dos outros" do madrileno Juan Munoz...



A alameda dos Plátanos, a antiquíssima Sequoia e todas estas obras de arte perpetuam a vida deste jardim, que é palco diário de muitas estórias e visitas, serve para a população e para os turistas, vivem-se aqui amores e desencontros, toca-se música e lê-se nos seus bancos de granito! Afinal, este jardim continua vivo e aqui também se sentem as mudanças da cidade.
Só julgo que o povo tem razão, seria melhor mudar-lhe o nome para jardim da Cordoaria, pois, é assim que é popularmente conhecido.

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