quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Kossoy vs Castelo Branco ou falemos de Amor!

Igual, sim, que o amor profundo,
Como foi  na terra o meu,
Não expira, é sempre vivo,
Sempre ardente e progressivo
Em perpétuo amor do céu. "
Camilo Castelo Branco in " Carta a Ana Plácido " (1858)
Depois desta carta, Ana Plácido e Camilo de Castelo Branco fugiram e viveram juntos o seu amor em Lisboa e no Porto. Até ao dia 6 de Junho de 1860, quando Ana Plácido foi presa, acusada de adultério, na Cadeia da Relação....no dia 1 de Outubro, Camilo entregou-se também à prisão, relatando sobre esse facto, o seguinte: "Fui ao tribunal do crime, pedi um mandado de prisão  mediante o qual obtive do carcereiro licença de recolher-me nas masmorras altas da Relação."
Este edifício trapezoidal do século XVIII, partilhado quase equitativamente entre o Tribunal da Relação e a Cadeia, testemunhou a pena de Amor sofrida por Ana e Camilo, também viu emergir um dos romances mais lido e a maior obra de Camilo, Amor de Perdição! 
Enquanto Ana Plácido permanecia na ala das mulheres, o estatuto social de Camilo permitiu-lhe ir para o último piso onde ficavam os quartos da Malta, que eram prisões individuais concebidas para as " pessoas de condição".
Em abril de 1974 a Cadeia foi desactivada e nos anos 80 sofreu várias remodelações. No ano 2000 sofreu a última intervenção com um projecto dos arquitectos Souto Moura e Humberto Vieira, de modo a alojar dignamente o Centro Português de Fotografia.
E quis a sorte ou o acaso também acolher aqui, nos últimos meses, a exposição do artista paulista Leonardo Kossoy " Only You".
Uma exposição que chama a atenção para as possibilidades e desafios dos relacionamentos a dois!
Um trabalho cheio de questionamentos e, que permite reflectir sobre o Amor, a relação com o outro, com o corpo...

Neste espaço austero, sente-se o peso da pedra e parece que a humidade e a escuridão realçam ainda mais os corpos desnudados... a sós frente ao erotismo das fotos, somos obrigados a reflectir sobre o desejo e a complexidade da intimidade.

Bataille continua actual, o erotismo traz-nos a problemática da continuidade e da descontinuidade, e, é sem dúvida o maior e o mais sublime problema humano, por que implica a identidade.
Lou-Andreas Salomé tinha já compreendido bem esta questão e clarificou-a quando defendeu que o verdadeiro conflito era o da mulher se fundir com o amado mas preservando a sua identidade..  Sem, dúvida que esta mulher inteligente soube bem do que falava!
E eu aqui a divagar frente a estas fotos!
Durante este percurso ocorrem-me outros autores, tantos escritos sobre o desejo e o amor! Mas, uma certeza, sem amor a vida seria vazia, um sem sentido. Felizmente que há muito que este caminho é feito a dois. Um amor que tem sabido contornar o tempo. E as madrugadas continuam, continuamos a despertar juntos. O Amor também é esta curvatura que amadurece e acalma.
Saio da exposição até ao largo onde o beijo eternizado me parece ainda mais luminoso e intenso.




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