terça-feira, 21 de março de 2017

Poetria: celebrar a poesia no seu dia!

A palavra do homem está pervertida. Pela tecnocracia, pelos interesses, pelo império do dinheiro. A pequena ou grande revolução que cada poeta pode fazer é subverter o discurso instituído e recuperar a força mágica da palavra. Porque a poesia é linguagem e só por ela se pode reconquistar a perdida beleza da palavra do homem.Talvez seja para isso que servem os poetas em tempo de indigência. E talvez seja esse o poder da poesia na grande selva em que se transformou o mundo.
                 Manuel Alegre
Hoje celebra-se o dia mundial da Poesia. Também é o dia da árvore e da floresta. Dia Internacional Contra a Discriminação Racial e o do Síndrome de Down. Uau....assinalam-se quatro coisas bem distintas numa só data. Este dia 21 de Março deve ser um dia muito "emproado" e "vaidoso" cheio de orgulho pelas suas celebrações e nem sei como tem só as mesmas 24h dos outros dias. Para tanta comemoração precisávamos de mais horas....eheheheh
Saí de casa esta tarde com um objectivo: celebrar a Poesia. Não que as outras datas não sejam importantes, nada disso! Em relação à árvore e ao equinócio da primavera tenho outros projectos para esta semana os quais incluem mais tempo despendido na horta com as minhas culturas, a plantação de um pessegueiro lindo e florido que já está a aguardar momento de reunião familiar lá para o final da semana...Quanto às outras datas, julgo que através da poesia e da palavra se integram nestas andanças. Afinal, como diz Manuel Alegre [a Poesia] é "pela desconstrução da linguagem estabelecida, pela subversão de dogmas e mitos, pela violência verbal contra o conformismo e contra o medo, pela própria “vidência”. É por esta Poesia, pela Poética que se pode subverter o real e pintar os dias com mais cor...
Fui até às Galerias Lumiére, é lá que se encontra a Poetria! Uma livraria de Poesia. E como "reza" no próprio site:
A Poetria existe desde 2003 tendo nascido para que nela só morassem livros de poesia e de teatro, a única no país no seu género, elegendo como razão de ser uma espécie de epígrafe redentora: "A Poesia cura, o Teatro é vida".
Ora, com este mote tem mesmo de se fazer uma visita obrigatória, mas para ficarem a conhecer melhor este projecto deixo-vos aqui o link http://www.livrariapoetria.com/a_poetria.php


Estava à espera de encontrar algum evento alusivo à Poesia neste dia, mas não fazia ideia que as Galerias Lumiére se tinham vestido a preceito com palavras tão intensas e com tantos autores...


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este espaço que na década de 70 era ocupado por salas de cinema, apresenta-se agora inteiramente renovado desde 2014 num novo conceito que associa lojas a gastronomia, projecto da autoria da designer Inês Magalhães. Dos 16 espaços comerciais criados pela Designer, apenas 4 estavam ocupados antes de Inês Magalhães entrar em cena. E um desses espaços era precisamente a Poetria – que resiste nas galerias há 14 anos. E citando ainda a página da Livraria, este projecto sobreviveu à crise que levou ao seu quase encerramento devido à vontade e união deduas mulheres " Olinda Matos Almeida, 55 anos e Dina Ferreira da Silva, 67 anos, ambas licenciadas pela Faculdade de Letras do Porto - Inglês/Alemão e Português/Francês,  e com pós-graduações nas áreas de Economia/Gestão e Ciências Documentais/Biblioteconomia."
 
E resistiu muito bem como se pode observar.
 
 
 
 
 
 
 

 
 
Hoje podia assistir-se a uma verdadeira festa da Poesia, em cartazes manuscritos, em caixas de cartão pousadas ou suspensas pelos cantos. Uma espécie de viagem com autores portugueses. Mário Casariny, Manuel Alegre, Sophia de Mello Breyner, Natália Correia, Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa...e outros tantos!
 


Reconheço a importância das palavras de Manuel Alegre: "Descontaminar a linguagem e restituir às palavras o seu sentido. Eis o que pode fazer a poesia. E o que pode ser o princípio de uma revolução."
Que bela ideia esta de serpentear todo o espaço com Poesia. Que bela forma de celebrar a Poesia no seu Dia. Espero que a Poetria continue fiel à sua identidade para que o Poema continue perene.
 
Há homens que são capazes
de uma flor onde
as flores não nascem.
Outros abrem velhas portas
em velhas casas fechadas há muito.
Outros ainda despedaçam muros
Acendem nas Praças uma rosa de Fogo.
Tu vendes Livros, quer dizer
entregas a cada homem
teu coração dentro de cada Livro.
Manuel Alegre
O Poeta escreveu este Poema para o Sr. Felisberto, o livreiro da Livraria Lello de Luanda (que tive a oportunidade de conhecer, não o sr. Felisberto, mas a livraria onde tive ainda o prazer de comprar alguns bons livros de autores angolanos - este parêntesis justifica-se por que me veio à memória esta livraria que também já não existe.) a quem chamou «Livreiro da Esperança». Mesmo sem a devida autorização peço emprestado o nome feliz para o aplicar à Olinda e à Dina «livreiras da Esperança».
Saio feliz e cumprindo o apelo de Baudelaire  "É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!"  Neste caso parece que me embriaguei de poesia.






Sem comentários:

Enviar um comentário