Há hábitos que se criam em família sem motivo aparente mas que, sem darmos conta se tornam numa salutar tradição. A nossa presença em Vila Nova de Cerveira por altura da sua feira medieval é a representação dos passeios familiares de verão e a confirmação de uma quase tradição, já com uns três ou quatro anos. Foi o acaso num regresso da Galiza que nos colocou neste burgo medieval pelo qual nos apaixonamos. A B. Era pequena quando aqui passamos a primeira vez, e sempre achou imensa piada às recriações históricas, sobretudo se puder usar uma coroa de flores no cabelo e se vir espectáculos com aves de rapina e cavalos. O que é certo é que adoramos esta vila minhota e em cada vinda descobrimos sempre algo novo, por isso voltamos sempre por esta altura.
Aqui respira-se a genuinidade do nosso povo e das nossas tradições e parece mesmo que seguimos a "parábola do Cajueiro" do escritor angolano Luandino Vieira, ou não fosse ele também habitante desta terra das artes, e em cada um dos nossos passos e achados conseguimos " descer no caminho da raiz à procura do princípio (...) - ou- deixar o pensamento correr no fim, no fruto". Nestes instantes há efectivamente um fio que cruza o passado e o futuro.
Este ano a festa da história misturou as artes e ofícios medievais com uma arte secular bem portuguesa: o crochet. E o burgo ficou ainda mais bonito e vaidoso.
O Cervo que nos recebe à entrada da Vila e que nos observa lá do alto do Monte do Castro, embora seja uma escultura
de artista consagrado ( José Rodrigues ) rivaliza com estes mais criativos feitos pela comunidade anónima de artistas da terra que deitaram mãos à obra, ou aos fios, e acolheram este projecto de revitalizar esta técnica ( que agora até virou moda) e concretizaram assim o lema " o crochet sai à rua".
Não há canto nem esquina, nem montra nem janela que não esteja tecida de coloridos pontos, dando mesmo a sensação que voltamos a outros tempos, os das gentes que conversavam e faziam rendas e crochet nos serões quentes às soleiras das portas.
Esta gente minhota não deixa créditos por mãos alheias. Quando a feira medieval terminar ficam estas obras a lembrar como é importante conservar a herança cultural de um povo. A B. e as outras crianças da geração dela vão certamente dar mais valor a estes saberes ( acreditamos) e hão-de encontrar na memória caminhos outros para ligarem o princípio e o fim....reiterando o mote do escritor ( Luandino Vieira ) "o fio da vida não foi partido. . É assim o fio da vida. ".
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